Cidade Vinhateira



Viseu, capital das terras do Dão

No coração do imenso planalto de solo granítico protegido pelas serras da Estrela, Montemuro e Caramulo, a cidade de Viseu é reconhecidamente a capital de uma das mais singulares regiões vitivinícolas de Portugal – e mesmo da Europa, apresentando características que se assemelham a algumas das emblemáticas regiões francesas.

Cidade capital de vinhos elegantes e aristocráticos, alberga o belíssimo Solar do Vinho do Dão e espraia a sua matriz e influência pelas margens do rio que batiza esta região única e peculiar – uma região feita de vinhedos que rasgaram clareiras por entre pinhais para dar origem a vinhos extraordinários.

Viseu é simultaneamente o ponto de partida e de chegada para a degustação dos grandes vinhos do Dão. Porque só aqui pode sentir-se a atmosfera urbana de uma cidade especial em que se respira a proximidade afetiva dos vinhedos do Dão. E porque o afeto também faz parte do “terroir”, essa múltipla conjugação de clima, território, diferentes tipos de solo e simbiose das vinhas com o meio envolvente. Por terras de Viseu, cidade milenar, capital histórica e natural das terras do Dão, descobre-se um “terroir” que nos remete para vinhos difíceis de encontrar noutras regiões portuguesas – vinhos com frescura, acidez, mineralidade e estrutura que se caracterizam pela sua elegância, por uma capacidade de envelhecimento invulgar e pelo potencial gastronómico necessário para se conseguirem harmonizações perfeitas. Quando, no mundo inteiro, o vinho é cada vez mais indissociável do enoturismo, é difícil encontrar em Portugal melhor destino do que Viseu e as terras do Dão. Porque nenhuma outra região demarcada portuguesa tem a sua cidade emblemática assim paredes-meias com os vinhedos que lhe dão origem.

Texto redigido por Luís Costa
Jornalista, “winewriter”, editor da revista WINE – A Essência do Vinho


Longe vão os tempos, felizmente, em que o Dão se tornou vítima de si mesmo, quando o monopólio dominante que detinha no pequeno mundo dos vinhos portugueses, nos anos 70 e na primeira metade dos anos 80 – época de vinhos extraordinários – deixou a região anestesiada no seu próprio sucesso, vendo-se ultrapassada pelo Alentejo, primeiro, e pelo Douro, logo a seguir.
Há cerca de 20 anos, ao longo da última década do século XX e na transposição do milénio, o Dão renasceu das cinzas, modernizou-se, apetrechou-se com adegas modernas e com a melhor tecnologia e viu emergir – muito mais importante do que tudo o resto – dezenas de novos produtores e de grandes enólogos que desde então andam a fazer grandes vinhos, singulares e irrepetíveis.
Além do mais, os novos vinhos do Dão honram sobremaneira os seus irmãos mais velhos dos anos 70 do século passado, indo claramente ao encontro dos consumidores mais exigentes, que estão cansados da oferta “mainstream” da maioria das regiões vitícolas do mundo inteiro, assente em vinhos demasiado extraídos, demasiado encorpados, demasiado madurões, muito fortes e alcoólicos, carregados de frutos negros, enfim, excessivamente musculados e enjoativos.

Para sorte de quem gosta de vinhos tintos elegantes – e como bem sublinhou o conceituado crítico de vinhos Paul J. White – o Dão “oferece uma alternativa clara” ao disponibilizar “vinhos delicadamente perfumados, mais leves, com notas de frutos vermelhos (cerejas e morangos), taninos finos e acidez refrescante”, um pouco ao estilo da região francesa da Borgonha.
Mas se no Dão encontramos vinhos tintos que nos remetem para a Borgonha – nomeadamente os que vivem da casta Jaen – pode dizer-se que há perfume de Bordéus nos grandes lotes construídos com Touriga Nacional e Alfrocheiro. Ou que existem laivos da sub-região de Chablis – pátria dos melhores Chardonnay do mundo – na mineralidade, componente cítrica e equilíbrio dos fantásticos Encruzado da região do Dão.
Singulares nas suas características, os vinhos do Dão comparam-se aos melhores. São vinhos no patamar da excelência.

Texto Redigido por Luís Costa
Jornalista, “winewriter”, editor da revista WINE – A Essência do Vinho


Gastronomia

 

Em terras de Viriato, distingue-nos a arte de bem receber e servir. A Gastronomia viseense, tipicamente beirã, é rica e variada e é um dos nossos ingredientes secretos que mais apaixona quem nos visita. Petiscos variados e bem condimentados, pratos encorpados e aprimorados, e doces irresistíveis, de apaziguar até os gostos e paladares mais exigentes. Sabores e saberes para provar e desvendar em diversos restaurantes da cidade, desde os mais típicos aos mais requintados.

Esta é a terra dos famosos Rancho à Moda de Viseu, Vitela Assada à Lafões e Arroz de Carqueja. Mas também do Entrecosto com Chouriço e Grelos, do Cozido à Portuguesa e do Cabrito Assado. Para os mais gulosos, o Viriato, os Pastéis de Feijão e as Castanhas de Ovos são doces obrigatórios que, com certeza, vai querer repetir. O casamento perfeito é selado com os Vinhos do Dão, ótimos acompanhantes da nossa Gastronomia. Maduros, de aromas frutados, provenientes da Região Demarcada do Dão, os néctares da região são um cartão-de-visita obrigatório, para experienciar com toda a calma e tranquilidade, a acompanhar uma refeição, ou até mesmo para desfrutar ao final do dia.

Sabia que...

O Rancho à Moda de Viseu é o ex-líbris da cidade e, talvez, o prato mais conhecido? Reza a história que a famosa iguaria viseense nasceu em tempos conturbados da guerra entre liberais e absolutistas, no Regimento de Infantaria nº14. Nessa altura, a urgência em garantir a alimentação dos soldados levou o cozinheiro a elaborar um prato com todos os ingredientes que se encontravam à disposição. Da carne de galinha, porco e vaca, dos enchidos, grão-de-bico, batatas, macarrão e couves surgiu uma comida encorpada e calórica que garantiu a resistência dos militares sob as adversidades bélicas.

E sobre o bolo que herdou o nome do herói mítico de Viseu, Viriato?

No que respeita à doçaria, o Viriato é rei. O seu aspeto em forma de “V” espicaça a curiosidade de todos os turistas, miúdos e graúdos, que não resistem ao sabor inconfundível do bolo, presença obrigatória em diversas pastelarias e confeitarias da cidade. A origem da receita original do Viriato, permanece, até aos dias de hoje, um mistério. Alguns mencionam que ela poderá ter chegado, há mais de 50 anos atrás, pelas mãos de um grupo de pasteleiros oriundos de Lisboa. Outros apontam-na como receita viseense, criada por uma senhora residente na Casa das Bocas, na Rua João Mendes. Independentemente das origens, a verdade é que uma visita a Viseu é sinónimo de uma prova do doce típico.